diamantina
cascalho macio e calmo de areias brancas
me enrodilho em tuas pernas antigas
mesmo que tu gemas e me atinjas com teus
cristais
me cubro de um sono bom
e brilho
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falo
essa guanabara se abre
toda
quem a chupa é um antigo amigo
vizinho embasbacado
que não sabe como dizer
que não a ama nunca a amou
enquanto ela crava suas unhas surdas nas
costas
e sobe
agarrada à camisa rasgada a esse pau que já quebrou
grita que não é lixo
e que já teve o seu tempo
mesmo sabendo
que nunca gozou
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janeiro
que tão mulheres somos nós duas
que dormimos na mesma cama e sob
a mesma descoberta
e não nos tocamos
ao invés de sussurros
carros gritando buzinas
esta colcha de pele retalhada
pelos e teu pescoço
vãos
por onde me meteria se
ao invés de cimento fosse de
artéria
esta parede que nos contorna
e a minha mão espalmada coubesse
no teu tecido
que tanto somos e nos ignoramos
nesta solidão que busca
sentidos
que a língua brota da garganta
seca
e não te toca porque estás nua
e por que me dói te descobrir a
pele
se é noite
e nos despimos juntas de todos os
atos
para
dormir
que tão
mulheres somos de veias desertas
que
respiramos juntas e não nos consentimos
que na
mesma cama em que dormimos duas
tu passas
como caudaloso rio
todo
janeiro
de
ausências
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minas
tuas mãos
se exaurem
no meu
corpo
gotículas de suor e montes
que surgiram não sei de onde
carne e lençóis
e falas falo respiras na minha boca
o outro que queres alcançar
do outro lado
esta cidade morre
a noite cola-se ao tempo
e queremos o silêncio que não acabe
este estertor este sal de salivas
que nos cobre
e eu imagino minas bocejando
e abrindo janelas
aqui os cachorros latem
em ruas que quase nunca estão
desertas
enquanto te afogas nesse mar de
pedras
e lavras
teus futuros edifícios em mim
os cascalhos da solidão consomem
as construções os fantasmas
adormecidos sob as cobertas
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ouro preto
saudade e bruma
de ouro
úmida sob as coxas, a mina pequena
em retalhos
quente
colorida e acesa
de um olhar louro
a terra cheira nos dias
e eu nunca cometerei outras cidades como
esta
trepada nos verdes sem ideais e alheia
apertada nos espartilhos das montanhas
burramente donzela
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quintais
pra Adélia Prado
entre nós
poços
bandeiras de novas-velhas
tri(ângulos) ultrapassados
minas a descoberto
agachadas políticas dores de terra parto de bombas
parto
com patas de galochas
ferraduras de pelos
bicho colonial civilizado
desdobrando-se
as pedras seculares os cemitérios a cal
qualquer caminho percorrido
dentro do século ou esquecido do tempo
será intervalo
o branco do ventre pendido
inútil entre as paredes
dos dedos
descolados da casa
a palha sem mitos
dos pelos
o peito
do púbis
negro ou
dourado
vazio
os cacos de
um desenho no chão
minas
irrefletida trilha
de cios
arremessada para o atrás
forçada pelas esteiras
do perdido ouro
pisadas cuidadosas na pele
bêbadas de leite
mancas de queijo
mamar até o assassinato
depois:
procurando
Outra
saída dúctil
de si
para o espelho
improvisar
quintais
(hábitos
quinhentistas)
e lançar
pelas janelas
minas aos
caroços
no Rio
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