quinta-feira, 13 de março de 2014

OS NÓS DE MIM




Estou tão feliz! À beira do ridículo
arde meu peito em brasas de paixão.
Vinte anos de menos, só seria mais jovem.
Nunca, mais amorável.
Já desejei ser outro.
Não desejo mais não.

                                 Adélia Prado



Quando se quer entrar num buraco de rato
de rato você tem que transar

                                               Raul Seixas



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                         A Terceira Face

          Apenas tardiamente compreendi o que seria estar no mundo do Outro, como psicanaliticamente se diz. Concluí, ou melhor, desconcluí, que todas as opiniões acumuladas com ares de absolutismo me davam uma bagagem que não, absolutamente não serviam para nada. O Outro residia também no seu mundo de bagagens, e para alcançá-lo eu deveria jogar minha mala fora. No máximo, sair com a roupa do corpo, já que nua, chamaria a atenção dos passantes.
          Foi o que fiz numa tarde azul e nada melancólica de verão. Entrei num ônibus e resolvi visitar o Invisível. Mas provocar um encontro é realmente uma tarefa árdua. Pode-se tentar falando com os porteiros, com os trocadores, com as mulheres gordas que vão aos supermercados. Este é o primeiro estágio. Depois conversar com os colegas de trabalho, o que também ajuda. Mas o Outro, o verdadeiro Outro é aquele que você gostaria de ver entrar como um vendaval na sua casa, tirando suas coisas do lugar, dando palpite infeliz em tudo, e dizendo, eu faria assim, eu poria de Outro modo. Aí você tropeçaria neste Eu Ameaçador, o varreria de sua casa, e à noite, já encolhida e vivenciando a Sua falta, suspiraria, Ah, que falta Ele me faz!!!
          O que não quer dizer que o Mesmo não sopre acariciador como uma brisa quente, quentíssima de verão. Aquele que balança a cabeça e concorda peremptoriamente com a sua afirmativa, preenchendo-a como um balão novíssimo em folha, que acabou de ganhar o ar. Majestosamente, com o tradicional dedo em riste, protegendo-a daquele Outro ameaçador invisível que está atrás, o Terceiro que discordou de tudo e a empurrou para o abismo do desfazimento. O colo do Mesmo, Alentador, ainda que sub-repticiamente carregue consigo alguns pequenos e afiados alfinetes, para que você não infle demais.
          Mas o Mesmo pode se tornar um chato. Repetir você como um gravador obsoleto. O Mesmo, Massa Moldável Costumaz. Aquele que você encontra na esquina e finge que não vê, mas não adianta. Acenando com seu cartão de ponto diário, enfiando-o na sua cabeça até você escutar o clique, são 4 horas da tarde, aí vem o crespúsculo (que diabo), abrir a porta, lavar a louça, fazer café, ir à padaria. O Mesmo achata o seu nariz numa redoma de vidro, só que você é que está dentro, bicho de zoológico futurista, e ele de fora olhando.
          O Mesmo varia do cínico ao perverso. Quando não é melancólico. Basta ver as famílias dos Mesmos quando ganham as ruas. A procissão dos Mesmos, a profecia dos Mesmos, a profissão dos Mesmos. E você num filme B de terror, com a saída do cinema trancada. A televisão ligada e você ligada no lixo da televisão. O rádio tocando aquela música insuportável e você com preguiça de desligar, só pra não ter que andar até ele. O Mesmo aflora que nem sarna, e você se arrepende até a eternidade por tê-lo convocado. Só que, cristãmente, você o atura.
          De repente, blom, bluft, blum!, você estoura. O Mesmo ganhou um estarrecedor ar de Outro e a atravessou com dez milhões, quinhentos e cinquenta mil e noventa e quatro parafusos, desajustando as porcarias das suas porcas. E você ganha aquele ar estupefato de bezerra desmamada, bate o pé no chão, avermelha-se. O crepúsculo das deusas. A ventania recomeça, o tornado, o mundo gira à sua volta. A faca que corta a pizza na mão do garçom ao lado toma um ar macabro de um machado psicótico. O ketchup espalha-se espalhafatosamente no ar rarefeito: você não pode mais respirar. O Outro cresce, e você tenta ficar do tamanho Dele. Narinas infladas, você cospe As Palavras, O Alcorão irreversível. Sua mala desajeitadamente reaparece sob a mesa. Você a pega e a sacode ferozmente na cara Daquele Infame. Com a sua mágica, vai tirando de dentro dela todo aquele mundo enorme. O Outro decrépito, decresce em sinal de respeito. Cospe mas engole. Bufa, vai embora. E assim que te vira as costas, faz uma Falta Imensa.


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                                               aceitação

Que venham os monstros  os invejosos
os oportunistas  as moscas varejeiras
os supostos coitadinhos do golpe com suas esmolas de vidro
que só pensam em empregar seus filhos
e torturam com pequenos cortes a próxima fodida geração

que venham as peruas louras e alisadas
a misoginia funkeira  as palavras fáceis
o mundo cultural tacanho
é tempo de inclusão
social

que me penetre na carne o senso de injustiça
com seu tecnológico toque global
todos querem o mundo às suas imagens e semelhanças
muitos Deus e poucos risos
nenhum projeto coletivo
menos sonhos ainda

que venham (evocando Mário)
as zabumbas da Lapa e seus conservadorismos
os futuros intelectuais de esquerda
alienados  individualistas
brigando pela primeira fila

que venham todos  meu peito é grande
quase continente  quase berço esplêndido
a minha capacidade de aguentar insônias é imensa
tenho uma caçamba enorme para triturar lixos
e uns tentáculos gigantes
que eu uso como barbantes
para amarrar as estribeiras


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                       apropriação
         
                                 pros meus irmãos de criação


o exílio é aqui  ao lado
mas eu nunca saí do país
nem mesmo dessa sala

se eu pudesse dizer
diria que estou cansada
do seu foco  dos seus pecados
que eu recuso e não pago

faz você o seu pó  os seus morros
você que cheire eles todos
e dance a dança da naturalização

não quero ser nada igual
a esta hecatombe de nomes
sem conteúdo
aos novos padrões sem contorno
carnudos

como dançam bem os vazios de eus

 saio pela porta dos fundos
para o mesmo espaço de todos
mesmo caçada de tudo
ainda tenho dois olhares de fogo
MEUS


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                carta ao pintor


Botero:
a tua mulher gorda, a ruiva
que se penteia com leveza e
graça, fugiu com aquele homem
o do bigode fino
daquele quadro que esqueci o nome
mas era belo e tão gordo e tão peludo
um colombiano das Américas
e estava nu, como ela

cansada da plateia, dos curiosos
convidou-o a sentar num desses “óleo sobre tela”
e beber um café preto, latino

após se fartarem das naturezas-mortas com frutas
vestiram-se
e fugiram pelos estreitos telhados de Medelín 

agora ela é sua musa, sua monalisa gorda e despreocupada
que come entre os lençóis
ambos usam um anel no dedo da mão esquerda
após o nascimento dos seus 5 filhos
e não querem voltar, e pediram
para vos prevenir
pintor
que a criação do artista
se libertou 


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                                              cio 

cotidiano sem ouro  sem especiarias
numa casquinha de nós doentes
convocando ao diminutivo
um Rio correndo sem parar

que cio é este invertido
que faz implodir sem um pio
que trepa com tanatos ao sol
e avança pelos fundos  pelas bordas
e atravessa pelos furos  pelas falhas
realizando desejos obscuros
disparando em corpos parados
assassinando os herdeiros da cena


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                        confraria 

o poeta arria as calças
e balança
os críticos dizem
como é grande

a poetisa põe a saia
os sapatos
organiza os espelhos
(criticam os mesmos
com repulsa)

pra depois...

“não sei nada sobre isso
sou florzinha”
diz a poetisa
criticamente enrabada


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doer


cruzo a tarde da tua falta
pelos cotovelos o poema aguarda
perder o nome  a memória  a fala
rodar-me em cruz  desatar-me em portas
ver de longe o umbigo boiando no morto
caminhando nos roxos vermelhos do abandono
onde os concretos são os prédios
e os fatos tirados da dor
como um aborto

ah  os trilhos  os seios que emanam seios
são meus os contornos
e não inventados
que ficam reflexos  retidos  emoldurados

são anos  assaltos
entre noites  pulos e fatos
difíceis de ventre
pesados

e estar sempre em tardes tentando saltar tardes
puxando os fios  enrodilhando os braços
para embalar-me

e esse doer no inconsolável
como um sol inchado de socos
freando as vísceras  o corpo
e ficar-me
sem digestão
amassando muros  passantes  meses
entre as mãos

sem vê-lo ir
vendo-o sempre indo

tentando guardar-me no que te existia
amarrando-me no que me deixaste
afundando-me cada vez mais entre poços
e nãos


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            felação

teu contorno tão gigante
te chupo os cabos  as penínsulas
mas cheira à cópia malfeita
de mundo já conhecidos

me faculta o simplesinho
repito o que já foi traçado
hoje estou mais para a terra
e não há membro rígido que resista
a tamanha regressão

quebro-me, sou chão do agreste
me faltam o líquido  o bar  os cremes
o que se pensa que é imprescindível
para maquiar esta inconsolação

e teu corpo continua grande
mas completamente analfabeto
dos meus pontos táticos  dos meus espaços líricos
que língua nenhuma alcança
em que pássaro nenhum se aventura
sem se transformar


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   geração
                                                                                            
                           pro André Luiz Pinto

   
pior do que unhas arrancadas sob tortura
ó terra avanças contra mim
com teu cheiro de mofo  tuas lembranças
do 1º. de abril

embora sejamos as duas
igualmente colonizadoras
queremos  queremos cabeças
tu a de todos  eu a tua

cuspo na tua grandeza forjada
pisoteio todo o teu azul
e assim me mato
fuzilada
como um outro lado
que se expõe
de um rosto que estava guardado
por um muro
blindado
esperando vítimas

arranco  arranco e mostro
toda a minha face chaguenta
a pior
carente  desempregada  a escória
que dorme pra nada e acorda no meio
de um pesadelo

nunca acaba  nunca acaba
este asfalto  esta calçada
pra onde levam
meus ossos  minha carcaça

sobrei em meio a escombros e refrigerantes
entre jovens que erotizam demais
e velhos-jovens que mentem o tempo todo
sobre como foram coitadinhos
ao te combaterem

ó terra como nos enrabam bem
esses nojentos
como nos mantêm acorrentados
a um Prometeu às avessas
roubando nossa humanidade
usurpando com seus filhos nossos espaços
Rios onde afogadas e afogados
como eu
se ressentem


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                              humanidade

                                pro Fernando


arrepender-se
e montar o sol pelo avesso
e ver somente o negro dos interstícios
e usar anéis cruéis que não são nossos
nos ossos

só os monstros devem arrepender-se
(embora não o façam)
os que matam cravados no alvo
com um sorriso nos lábios
um ou muitos
numerariamente

para nós que apenas estapeamos mosquitos
e nos incomodamos pedestremente pelos famintos
basta uma pequena ingênua culpa mensal
e a consciência de que
somos gente afinal


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              intervalo


entre o gênio e o cão
existe um corpo de desmedidas doces
que foge do verbo morto que habita o livro dos coitados
que recusa a mordida cariada dos que adiam
para o ontem
o que deveria ser humano

a simetria é um equívoco ocidental
que não admite cacos ou outras tessituras
como a pele desfeita, os nós em trama
as veias maleáveis
e até mesmo o fogo:
se for só escrito, o pulso se perde
corpos pedem mais que desolação ou fitas métricas

corpos pedem corpos
enredados nas teias das carnes
plantadas no trigo das horas
que brotam
e florescem

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                                              memórias

já nasci velha  enrugada
quando todos viviam a rodo
eu me ajoelhava e vaticinava
a poesia mata

enquanto era lambida por uma labareda abstrata
a concretude da vida me estapeava
profissão:  o corvo  o casamento  a casa
mãe  irmãos  facções  tacadas
as involuções que obrigavam
a cair de quatro  a limpar com a língua
o excesso da fala

e eu me dispunha até os ossos
montada  seduzida  maltratada
a roer os restos  as migalhas
(mas continuar sendo)
eu ia esmigalhada
(cinderela coitada)
mas seguia sendo
  
fruta venérea do tempo
silenciosamente consolidando
(mesmo forjando rugas)
mudando  sendo
uma fantástica  frondosa 
feminina  maiúscula
robusta pessoa
inteira

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                         poema colonizado 

o mar me arrasta com sua língua
nesta piazzolla tarde rasgada
ando como um trapo  saltimbanca
bahia abandonada por piratas

o que sobrou ficou pelas areias
meus ossos  minha ética  minhas táticas
os elementos inúteis  irremovíveis  duros
das minhas máscaras

lambida pelo sol  aberta pela casca
exponho meus lábios  minha fala
entrego o ouro ao bandido
o vil (e velho) conhecido metal
da minha falta

o mar me entranha pelos dedos
me empurrando até as costas
e eu subo e navego os medos
dessa abandonada guanabara

e sinto desejos franceses de ilhas
seus mastros  suas velas cansadas
seus trapézios de turistas
fincada pelo outro
no asfalto
por corpos  cocos  velas  arcabuzes  maresias
nessa cidade sem dias
recolho as velas do ventre
arrasada  invadida
desmoronada
pela carioca vida vazia


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           poema com outro dentro


lixando até ficar tão fino
peneirando para ficar tão claro

e virar pelo avesso os seus
os meus  até que saia o sumo
e te beber embriagada

e pôr no lugar o denso removido
os tropeços  as pancadas

e costurar com as unhas
o bom  o simples  o acaso

e me te beber embriagada
do grande  potente  úmido
meus saídos  contigo
trocados


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                   poema inútil

guardo porque sinto
entranhas sinuosas que fomento
em palavras

e porque odeio metáforas
rasgos  gritos  delírios
arranco com a unha
o cotidiano que vai pequeno
caminhando com sua lenta pata

e explicito
que é dor sim  que é dor não
o lugar em que me equilibro
nesse cume do buraco
em que respiro
e me planto:
para ser um livro  um lembrete  um pão

em farelo puída
me publico
recuso-me à utilidade
e me guardo porque cinto
explosivo desconfio
das explosões vãs


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poeuminha infantil
                                   
                            pro Flavinho
                            pra Moniquinha


A minha dor selvagem mora aqui  perto da janela
é feia e torta, tem varizes
daqui eu escuto a tosse dela

não há xarope que faça passar
nem o pique, nem o esconde
ela roda de sol a sol
e sua

a minha dor é boba
não é chegada a banho
de loja
não gosta de chope  nem de futebol
é cega de direção
é burra de conclusão

é uma dor com soluços
gagueja com matemática
e é quase física

Um dia tentei enjaular
a minha dor selvagem
e ela quase morreu
montou numa tempestade
e queria fugir do mundo
e eu tive um trabalhão
pra trazer ela de volta

é que eu não entendia
que é uma dor sentadinha
se conforma com pouco:
basta um pouco de cuidado
basta um pouco de estrago

brigamos um dia, ela e eu
trocamos xingamentos  mazelas
ela virou vizinha
(uma dor assim
não se trata como velha!)

até que um dia eu cansei
e fiz ela virar vestido
pano de prato  esfregão

tomara que ela não caiba mais em mim
tomara que eu não caiba mais nela


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                            profissão

                          pro José Maria


dar tempo ao tempo
mergulhar a tripa na confissão da paciência
e rolar escada abaixo enquanto se paga aos santos
horas que foram devotamente roubadas
de mim

imersa na inércia que unguento na alma
grito cheia de cacos  de exclamações
pelo menos não foi morna
(adiciono aqui um consolo cheio de cheiros)
a vida  vidinha de mais-valia
mais-valeu
mesmo retalhada  garroteada  roubada
com suas insônias  seus incensos vãos
e mergulhos fundos numa prostituição sem preço
em seus trabalhos sem valor
pelo pão


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                        prostituição

                        pro Leminski


pagar pra ver
não é nada raro
mas gozar com a vida
custa caro


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reciclagem


a realidade me chama
eu corro  me escondo nos cantinhos
dos sonhos que eu queria ter

toca o celular como sinos
recebo contas a pagar atrasadas
como meu caminho

se eu pudesse desligaria o mundo
pediria ao Boss para me esquecer
mas Ele tem dentes de triturar profundo
e uma leitura mais rápida
um bote mais ativo

mando meu corpo sem jeito pra Ele
come rápido, eu digo, tritura. Se for
um  capricho (penso) logo me abandona

mas o que sobra é tão pouco que não dá poema
só um resto de lixo que o Neoliberalismo empurra
reaproveita e joga num tubo estreito e escuro
para melhor me espremer


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                         sábado


o gosto dos quase táteis agostos
e as cenas das quase perdas
e o choro no violoncelo do corpo
entalhado no arco de sempre

aqui não há inverno
só o medo
que chova ossos  que o pulso arrebente
e não reste púbis sobre púbis
só os cacos

há que ser artista de mosaicos
colar as crises  as facadas  os abandonos
descascar um país entre os dentes
e aguentar os nomes de filha  aguentar
até ser mulher hercúlea  deusa pobre
de poderes

e inventar naturezas vivas  mundos sobre as costas
e um amor tão falso como querem os homens
que aceite tudo e que não dê trabalho

e tecer palimpsestos rasgados
à noite, afastando os ausentes
e inscrever na pele que há vida
há vida
antes da morte  dos finais  dos cortes
misturada à areia do cotidiano
por um triz
há vida agarrada nos poros


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                            tecelagem

extrair o ouro bruto desse cotidiano
e recusar uma dívida atávica  oca em oceanos
até chegar ao extremo desoriente
que é este Rio cuspido e escarrado
a cara do Pai

esta terra descoberta e reduzida
a pó  picaretagem  maus motoristas
com especialistas e especiarias duvidosas

e mesmo assim tentar
com tentáculos  óculos  pesadelos
bordar uma estrada no plano
colar um farol na testa
num trabalho paciente
de Penélope
se desmisturando


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                          visita

                          pro Nilton


A casa do outro tem formas de ouro
a ficção velada  do desconhecido
onde só posso ver pontas e quinas
contornos de pó  gestos crespos  madeiras lisas

não fui eu que comprei  não fui eu que escolhi
e posso estar de visita
entrar no outro e voltar pra mim

daqui sinto o cheiro de sândalo
o rasgado vermelho de estar
no meu oriente olhando-me
de lado
espreitando o que posso
de seus estados

o outro meu trampolim
o nada gasto  o com contornos
o que me costura no claro opaco

amar o outro é como amar os gatos
mas os gordos  complacentes  macios
gatos
os que negam suas classes felinas
por serem mais inteligentes

os que não são inferno  nem acaso empalhado
os que abrem brechas no tempo
e trazem a pele para alisar
e que se aquecem e ronronam
sob nossos dedos










               

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