Estou tão feliz! À beira do
ridículo
arde meu peito em brasas de
paixão.
Vinte anos de menos, só seria
mais jovem.
Nunca, mais amorável.
Já desejei ser outro.
Não desejo mais não.
Adélia Prado
Quando
se quer entrar num buraco de rato
de
rato você tem que transar
Raul
Seixas
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A Terceira
Face
Apenas tardiamente compreendi o que
seria estar no mundo do Outro, como psicanaliticamente se diz. Concluí, ou
melhor, desconcluí, que todas as opiniões acumuladas com ares de absolutismo me
davam uma bagagem que não, absolutamente não serviam para nada. O Outro residia
também no seu mundo de bagagens, e para alcançá-lo eu deveria jogar minha mala
fora. No máximo, sair com a roupa do corpo, já que nua, chamaria a atenção dos
passantes.
Foi o que fiz numa tarde azul e nada
melancólica de verão. Entrei num ônibus e resolvi visitar o Invisível. Mas
provocar um encontro é realmente uma tarefa árdua. Pode-se tentar falando com
os porteiros, com os trocadores, com as mulheres gordas que vão aos
supermercados. Este é o primeiro estágio. Depois conversar com os colegas de
trabalho, o que também ajuda. Mas o Outro, o verdadeiro Outro é aquele que você
gostaria de ver entrar como um vendaval na sua casa, tirando suas coisas do
lugar, dando palpite infeliz em tudo, e dizendo, eu faria assim, eu poria de
Outro modo. Aí você tropeçaria neste Eu Ameaçador, o varreria de sua casa, e à
noite, já encolhida e vivenciando a Sua falta, suspiraria, Ah, que falta Ele me
faz!!!
O que não quer dizer que o Mesmo não
sopre acariciador como uma brisa quente, quentíssima de verão. Aquele que
balança a cabeça e concorda peremptoriamente com a sua afirmativa,
preenchendo-a como um balão novíssimo em folha, que acabou de ganhar o ar.
Majestosamente, com o tradicional dedo em riste, protegendo-a daquele Outro
ameaçador invisível que está atrás, o Terceiro que discordou de tudo e a
empurrou para o abismo do desfazimento. O colo do Mesmo, Alentador, ainda que
sub-repticiamente carregue consigo alguns pequenos e afiados alfinetes, para
que você não infle demais.
Mas o Mesmo pode se tornar um chato.
Repetir você como um gravador obsoleto. O Mesmo, Massa Moldável Costumaz.
Aquele que você encontra na esquina e finge que não vê, mas não adianta.
Acenando com seu cartão de ponto diário, enfiando-o na sua cabeça até você
escutar o clique, são 4 horas da tarde, aí vem o crespúsculo (que diabo), abrir
a porta, lavar a louça, fazer café, ir à padaria. O Mesmo achata o seu nariz
numa redoma de vidro, só que você é que está dentro, bicho de zoológico
futurista, e ele de fora olhando.
O Mesmo varia do cínico ao perverso.
Quando não é melancólico. Basta ver as famílias dos Mesmos quando ganham as
ruas. A procissão dos Mesmos, a profecia dos Mesmos, a profissão dos Mesmos. E
você num filme B de terror, com a saída do cinema trancada. A televisão ligada
e você ligada no lixo da televisão. O rádio tocando aquela música insuportável
e você com preguiça de desligar, só pra não ter que andar até ele. O Mesmo
aflora que nem sarna, e você se arrepende até a eternidade por tê-lo convocado.
Só que, cristãmente, você o atura.
De repente, blom, bluft, blum!, você
estoura. O Mesmo ganhou um estarrecedor ar de Outro e a atravessou com dez
milhões, quinhentos e cinquenta mil e noventa e quatro parafusos, desajustando
as porcarias das suas porcas. E você ganha aquele ar estupefato de bezerra
desmamada, bate o pé no chão, avermelha-se. O crepúsculo das deusas. A ventania
recomeça, o tornado, o mundo gira à sua volta. A faca que corta a pizza na mão do
garçom ao lado toma um ar macabro de um machado psicótico. O ketchup espalha-se
espalhafatosamente no ar rarefeito: você não pode mais respirar. O Outro cresce,
e você tenta ficar do tamanho Dele. Narinas infladas, você cospe As Palavras, O
Alcorão irreversível. Sua mala desajeitadamente reaparece sob a mesa. Você a
pega e a sacode ferozmente na cara Daquele Infame. Com a sua mágica, vai
tirando de dentro dela todo aquele mundo enorme. O Outro decrépito, decresce em
sinal de respeito. Cospe mas engole. Bufa, vai embora. E assim que te vira as
costas, faz uma Falta Imensa.
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aceitação
Que venham os monstros os invejosos
os oportunistas as moscas varejeiras
os supostos coitadinhos do
golpe com suas esmolas de vidro
que só pensam em empregar seus
filhos
e torturam com pequenos cortes
a próxima fodida geração
que venham as peruas louras e
alisadas
a misoginia funkeira as palavras fáceis
o mundo cultural tacanho
é tempo de inclusão
social
que me penetre na carne o senso
de injustiça
com seu tecnológico toque
global
todos querem o mundo às suas
imagens e semelhanças
muitos Deus e poucos risos
nenhum projeto coletivo
menos sonhos ainda
que venham (evocando Mário)
as zabumbas da Lapa e seus
conservadorismos
os futuros intelectuais de
esquerda
alienados individualistas
brigando pela primeira fila
que venham todos meu peito é grande
quase continente quase berço esplêndido
a minha capacidade de aguentar
insônias é imensa
tenho uma caçamba enorme para
triturar lixos
e uns tentáculos gigantes
que eu uso como barbantes
para amarrar as estribeiras
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apropriação
pros meus irmãos de
criação
o exílio é aqui
ao lado
mas eu nunca saí do país
nem mesmo dessa sala
se eu pudesse dizer
diria que estou cansada
do seu foco dos
seus pecados
que eu recuso e não pago
faz você o seu pó
os seus morros
você que cheire eles todos
e dance a dança da naturalização
não quero ser nada igual
a esta hecatombe de nomes
sem conteúdo
aos novos padrões sem contorno
carnudos
como dançam bem os vazios de eus
saio pela porta dos fundos
para o mesmo espaço de todos
mesmo caçada de tudo
ainda tenho dois olhares de fogo
MEUS
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carta ao pintor
Botero:
a tua mulher gorda, a ruiva
que se penteia com leveza e
graça, fugiu com aquele homem
o do bigode fino
daquele quadro que esqueci o
nome
mas era belo e tão gordo e
tão peludo
um colombiano das Américas
e estava nu, como ela
cansada da plateia, dos
curiosos
convidou-o a sentar num
desses “óleo sobre tela”
e beber um café preto,
latino
após se fartarem das
naturezas-mortas com frutas
vestiram-se
e fugiram pelos estreitos
telhados de Medelín
agora ela é sua musa, sua
monalisa gorda e despreocupada
que come entre os lençóis
ambos usam um anel no dedo
da mão esquerda
após o nascimento dos seus 5
filhos
e não querem voltar, e
pediram
para vos prevenir
pintor
que a criação do artista
se libertou
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cio
cotidiano sem ouro
sem especiarias
numa casquinha de nós doentes
convocando ao diminutivo
um Rio correndo sem parar
que cio é este invertido
que faz implodir sem um pio
que trepa com tanatos ao sol
e avança pelos fundos
pelas bordas
e atravessa pelos furos pelas falhas
realizando desejos obscuros
disparando em corpos parados
assassinando os herdeiros da cena
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confraria
o poeta arria as calças
e balança
os críticos dizem
como é grande
a poetisa põe a saia
os sapatos
organiza os espelhos
(criticam os mesmos
com repulsa)
pra depois...
“não sei nada sobre isso
sou florzinha”
diz a poetisa
criticamente enrabada
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doer
cruzo a tarde da tua falta
pelos cotovelos o poema aguarda
perder o nome a memória
a fala
rodar-me em cruz desatar-me em portas
ver de longe o umbigo boiando
no morto
caminhando nos roxos vermelhos
do abandono
onde os concretos são os
prédios
e os fatos tirados da dor
como um aborto
ah os trilhos
os seios que emanam seios
são meus os contornos
e não inventados
que ficam reflexos retidos
emoldurados
são anos assaltos
entre noites pulos e fatos
difíceis de ventre
pesados
e estar sempre em tardes
tentando saltar tardes
puxando os fios enrodilhando os braços
para embalar-me
e esse doer no inconsolável
como um sol inchado de socos
freando as vísceras o corpo
e ficar-me
sem digestão
amassando muros passantes
meses
entre as mãos
sem vê-lo ir
vendo-o sempre indo
tentando guardar-me no que te
existia
amarrando-me no que me deixaste
afundando-me cada vez mais
entre poços
e nãos
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felação
teu contorno tão gigante
te chupo os cabos as penínsulas
mas cheira à cópia malfeita
de mundo já conhecidos
me faculta o simplesinho
repito o que já foi traçado
hoje estou mais para a terra
e não há membro rígido que
resista
a tamanha regressão
quebro-me, sou chão do agreste
me faltam o líquido o bar
os cremes
o que se pensa que é
imprescindível
para maquiar esta inconsolação
e teu corpo continua grande
mas completamente analfabeto
dos meus pontos táticos dos meus espaços líricos
que língua nenhuma alcança
em que pássaro nenhum se
aventura
sem se transformar
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geração
pro André
Luiz Pinto
pior do que unhas arrancadas
sob tortura
ó terra avanças contra mim
com teu cheiro de mofo tuas lembranças
do 1º. de abril
embora sejamos as duas
igualmente colonizadoras
queremos queremos cabeças
tu a de todos eu a tua
cuspo na tua grandeza forjada
pisoteio todo o teu azul
e assim me mato
fuzilada
como um outro lado
que se expõe
de um rosto que estava guardado
por um muro
blindado
esperando vítimas
arranco arranco e mostro
toda a minha face chaguenta
a pior
carente desempregada
a escória
que dorme pra nada e acorda no
meio
de um pesadelo
nunca acaba nunca acaba
este asfalto esta calçada
pra onde levam
meus ossos minha carcaça
sobrei em meio a escombros e
refrigerantes
entre jovens que erotizam
demais
e velhos-jovens que mentem o
tempo todo
sobre como foram coitadinhos
ao te combaterem
ó terra como nos enrabam bem
esses nojentos
como nos mantêm acorrentados
a um Prometeu às avessas
roubando nossa humanidade
usurpando com seus filhos
nossos espaços
Rios onde afogadas e afogados
como eu
se ressentem
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humanidade
pro
Fernando
arrepender-se
e montar o sol pelo avesso
e ver somente o negro dos
interstícios
e usar anéis cruéis que não são
nossos
nos ossos
só os monstros devem
arrepender-se
(embora não o façam)
os que matam cravados no alvo
com um sorriso nos lábios
um ou muitos
numerariamente
para nós que apenas estapeamos
mosquitos
e nos incomodamos pedestremente
pelos famintos
basta uma pequena ingênua culpa
mensal
e a consciência de que
somos gente afinal
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intervalo
entre
o gênio e o cão
existe
um corpo de desmedidas doces
que
foge do verbo morto que habita o livro dos coitados
que
recusa a mordida cariada dos que adiam
para
o ontem
o que
deveria ser humano
a
simetria é um equívoco ocidental
que
não admite cacos ou outras tessituras
como
a pele desfeita, os nós em trama
as
veias maleáveis
e até
mesmo o fogo:
se
for só escrito, o pulso se perde
corpos
pedem mais que desolação ou fitas métricas
corpos
pedem corpos
enredados
nas teias das carnes
plantadas
no trigo das horas
que
brotam
e
florescem
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memórias
já nasci velha enrugada
quando todos viviam a rodo
eu me ajoelhava e vaticinava
a poesia mata
enquanto era lambida por uma
labareda abstrata
a concretude da vida me
estapeava
profissão: o corvo
o casamento a casa
mãe irmãos
facções tacadas
as involuções que obrigavam
a cair de quatro a limpar com a língua
o excesso da fala
e eu me dispunha até os ossos
montada seduzida
maltratada
a roer os restos as migalhas
(mas continuar sendo)
eu ia esmigalhada
(cinderela coitada)
mas seguia sendo
fruta venérea do tempo
silenciosamente consolidando
(mesmo forjando rugas)
mudando sendo
uma fantástica frondosa
feminina maiúscula
robusta pessoa
inteira
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poema colonizado
o mar me arrasta com sua língua
nesta piazzolla tarde rasgada
ando como um trapo saltimbanca
bahia abandonada por piratas
o que sobrou ficou pelas areias
meus ossos minha ética
minhas táticas
os elementos inúteis irremovíveis
duros
das minhas máscaras
lambida pelo sol aberta pela casca
exponho meus lábios minha fala
entrego o ouro ao bandido
o vil (e velho) conhecido metal
da minha falta
o mar me entranha pelos dedos
me empurrando até as costas
e eu subo e navego os medos
dessa abandonada guanabara
e sinto desejos franceses de
ilhas
seus mastros suas velas cansadas
seus trapézios de turistas
fincada pelo outro
no asfalto
por corpos cocos
velas arcabuzes maresias
nessa cidade sem dias
recolho as velas do ventre
arrasada invadida
desmoronada
pela carioca vida vazia
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poema com outro dentro
lixando até ficar tão fino
peneirando para ficar tão claro
e virar pelo avesso os seus
os meus até que
saia o sumo
e te beber embriagada
e pôr no lugar o denso removido
os tropeços as
pancadas
e costurar com as unhas
o bom o simples o acaso
e me te beber embriagada
do grande
potente úmido
meus saídos
contigo
trocados
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poema inútil
guardo
porque sinto
entranhas
sinuosas que fomento
em
palavras
e
porque odeio metáforas
rasgos
gritos delírios
arranco
com a unha
o
cotidiano que vai pequeno
caminhando
com sua lenta pata
e
explicito
que
é dor sim que é dor não
o
lugar em que me equilibro
nesse
cume do buraco
em
que respiro
e
me planto:
para
ser um livro um lembrete um pão
em
farelo puída
me
publico
recuso-me
à utilidade
e
me guardo porque cinto
explosivo
desconfio
das
explosões vãs
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poeuminha infantil
pro
Flavinho
pra
Moniquinha
A minha dor selvagem mora
aqui perto da janela
é feia e torta, tem varizes
daqui eu escuto a tosse dela
não há xarope que faça passar
nem o pique, nem o esconde
ela roda de sol a sol
e sua
a minha dor é boba
não é chegada a banho
de loja
não gosta de chope nem de futebol
é cega de direção
é burra de conclusão
é uma dor com soluços
gagueja com matemática
e é quase física
Um dia tentei enjaular
a minha dor selvagem
e ela quase morreu
montou numa tempestade
e queria fugir do mundo
e eu tive um trabalhão
pra trazer ela de volta
é que eu não entendia
que é uma dor sentadinha
se conforma com pouco:
basta um pouco de cuidado
basta um pouco de estrago
brigamos um dia, ela e eu
trocamos xingamentos mazelas
ela virou vizinha
(uma dor assim
não se trata como velha!)
até que um dia eu cansei
e fiz ela virar vestido
pano de prato esfregão
tomara que ela não caiba mais
em mim
tomara que eu não caiba mais
nela
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profissão
pro
José Maria
dar tempo ao tempo
mergulhar a tripa na confissão
da paciência
e rolar escada abaixo enquanto
se paga aos santos
horas que foram devotamente
roubadas
de mim
imersa na inércia que unguento
na alma
grito cheia de cacos de exclamações
pelo menos não foi morna
(adiciono aqui um consolo cheio
de cheiros)
a vida vidinha de mais-valia
mais-valeu
mesmo retalhada garroteada
roubada
com suas insônias seus incensos vãos
e mergulhos fundos numa prostituição
sem preço
em seus trabalhos sem valor
pelo pão
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prostituição
pro
Leminski
pagar pra ver
não é nada raro
mas gozar com a vida
custa caro
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reciclagem
a realidade me chama
eu corro me escondo nos cantinhos
dos sonhos que eu queria ter
toca o celular como sinos
recebo contas a pagar atrasadas
como meu caminho
se eu pudesse desligaria o
mundo
pediria ao Boss para me
esquecer
mas Ele tem dentes de triturar
profundo
e uma leitura mais rápida
um bote mais ativo
mando meu corpo sem jeito pra
Ele
come rápido, eu digo, tritura.
Se for
um capricho (penso) logo me abandona
mas o que sobra é tão pouco que
não dá poema
só um resto de lixo que o
Neoliberalismo empurra
reaproveita e joga num tubo
estreito e escuro
para melhor me espremer
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sábado
o gosto dos quase táteis
agostos
e as cenas das quase perdas
e o choro no violoncelo do
corpo
entalhado no arco de sempre
aqui não há inverno
só o medo
que chova ossos que o pulso arrebente
e não reste púbis sobre púbis
só os cacos
há que ser artista de mosaicos
colar as crises as facadas
os abandonos
descascar um país entre os
dentes
e aguentar os nomes de
filha aguentar
até ser mulher hercúlea deusa pobre
de poderes
e inventar naturezas vivas mundos sobre as costas
e um amor tão falso como querem
os homens
que aceite tudo e que não dê
trabalho
e tecer palimpsestos rasgados
à noite, afastando os ausentes
e inscrever na pele que há vida
há vida
antes da morte dos finais
dos cortes
misturada à areia do cotidiano
por um triz
há vida agarrada nos poros
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tecelagem
extrair o ouro bruto desse
cotidiano
e recusar uma dívida
atávica oca em oceanos
até chegar ao extremo
desoriente
que é este Rio cuspido e
escarrado
a cara do Pai
esta terra descoberta e
reduzida
a pó picaretagem
maus motoristas
com especialistas e especiarias
duvidosas
e mesmo assim tentar
com tentáculos óculos
pesadelos
bordar uma estrada no plano
colar um farol na testa
num trabalho paciente
de Penélope
se desmisturando
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visita
pro Nilton
A casa do outro tem formas de
ouro
a ficção velada do desconhecido
onde só posso ver pontas e
quinas
contornos de pó gestos crespos madeiras lisas
não fui eu que comprei não fui eu que escolhi
e posso estar de visita
entrar no outro e voltar pra
mim
daqui sinto o cheiro de sândalo
o rasgado vermelho de estar
no meu oriente olhando-me
de lado
espreitando o que posso
de seus estados
o outro meu trampolim
o nada gasto o com contornos
o que me costura no claro opaco
amar o outro é como amar os
gatos
mas os gordos complacentes
macios
gatos
os que negam suas classes
felinas
por serem mais inteligentes
os que não são inferno nem acaso empalhado
os que abrem brechas no tempo
e trazem a pele para alisar
e que se aquecem e ronronam
sob nossos dedos
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